Criar uma plataforma intermodal.

A multimodalidade (existência de diferentes modos de transporte) já existe no município. Contudo, mais do que multimodalidade, o que se pretende é que haja intermodalidade (integração de diversos modos). De facto, a integração de diferentes modos é uma das condições essenciais para a promoção de uma Mobilidade Sustentável, sendo este conceito um consenso internacional, tanto em termos académicos como ao nível de manuais técnicos.

Figura 1

Figura 1 | O conceito da intermodalidade. Fonte: mpt®, 2016.

As interfaces são infraestruturas essenciais na promoção da articulação modal, sendo elos fundamentais para o bom funcionamento das redes de transportes do município. Tratam-se de elementos de dinamização dos diferentes níveis (urbanos/suburbanos, locais/concelhios, regionais, inter-regionais/expressos e internacionais) do sistema de transporte público numa determinada área. Assim, as interfaces contribuem para a dinamização da mobilidade na região e promovem a criação de emprego.

O que se pretende com esta plataforma intermodal é integrar, numa só interface, o transporte coletivo rodoviário (urbano e intermunicipal) e ferroviário (pesado e ligeiro5), o transporte individual motorizado, as bicicletas e os peões.

Nota 5: A proposta relativa ao transporte ferroviário ligeiro será melhor desenvolvida no capítulo relativo ao Transporte Público.

Um dos objetivos é proteger a cidade da entrada de automóveis, oferecendo condições de excelência de deslocação para a mesma em modos sustentáveis. Outro dos objetivos é tornar possível a integração das viagens intermunicipais em transporte coletivo (ferroviário e/ou rodoviário). Desta forma, torna-se igualmente possível desenvolver aquela zona do município em termos urbanos e económicos, à semelhança do que aconteceu com a Gare do Oriente, em Lisboa.

Salienta-se que o atual terminal urbano continuaria com as suas funções, sendo necessário adaptar os percursos e as frequências (que deverão ser relativamente elevadas) das linhas do transporte coletivo rodoviário urbano à implementação desta interface. De resto, esta adaptação requer um estudo operacional que deverá ter em conta o novo regime jurídico do serviço público de transporte de passageiros. Já as funções do atual terminal operado pela Eva (intermunicipal/interurbano) passariam a ser desempenhadas pela plataforma intermodal. A Figura 2 apresenta a proposta para a localização da plataforma intermodal.

Figura 2

Figura 2 | Localização da plataforma intermodal e a sua relação com a oferta existente de transporte coletivo rodoviário. Fonte: mpt®, 2016.

Segundo IMTT (2011) “as interfaces são pontos fulcrais nas redes de transporte público e, como tal, devem proporcionar condições eficazes de transbordo para todos os utilizadores que as frequentam”. Assim, na fase de planeamento deverão ser considerados os seguintes aspetos:

  • Espaço público envolvente | É fundamental planear a interface, tendo o peão como prioridade (quase todos os utilizadores do transporte público serão peões neste espaço). É necessário definir, de forma clara, rotas facilmente identificáveis e pontos onde se prevê um maior fluxo de peões, para que sejam criados locais de atravessamento, como passadeiras.

  • Circulação/acessibilidade no interior da interface | Deverá assegurar uma circulação segura, rápida, acessível a todos, sem obstáculos e com a preocupação de evitar conflitos entre os diferentes fluxos de peões.

  • Informação | A informação é essencial para garantir que os passageiros tenham conhecimento de todos os serviços que a interface lhe proporciona. Esta pode ser apresentada em tempo real ou ser estática, em vários tipos de suporte (visuais, sonoros e táteis), devendo ter em conta os passageiros com mobilidade reduzida e os turistas. Deverão, também, conter um balcão de informações para questões mais personalizadas.

As informações e direções sinalizadas não devem ser apenas para os serviços existentes no interior da interface, mas também para outros locais no exterior, incluindo a integração com outros modos de transporte, de modo a facilitar a transferência modal. Resumindo, a interface deve apresentar as seguintes informações:

  • Planta da estação, principais entradas e saídas;
  • Mapas com indicações de todos os modos de transporte presentes (diretamente e indiretamente) na interface;
  • Spider-Maps (mapas esquemáticos da rede de transporte);
  • Placards com informação acerca de horários, percursos e sistema tarifário;
  • Pontos de ajuda;
  • Rotas pedonais.

  • Estacionamento para bicicletas | Deverá conter um número significativo de cicloparques, potenciando o uso do sistema Bike&Ride.

  • Cais de embarque/desembarque | Devem ser corretamente dimensionados de modo a que não interfiram com o funcionamento normal da interface.

  • Parque de estacionamento com facilidades Park&Ride | A plataforma deverá ter um grande parque de estacionamento, funcionando como bolsa de estacionamento e permitindo o sistema Park&Ride.

  • Praça de táxis | Desempenha um papel importante na rede de transportes, sendo um importante complemento do interface.

  • Serviços | Esta interface deverá dar resposta, em particular ao transporte coletivo de médio/longo curso, enquanto paragem técnica ou ponto de entrada na rede. Deste modo, enquanto paragem técnica, deve prever uma oferta próxima a uma área de serviço, em que seja garantido parque para autocarros, posto de abastecimento e instalações sanitárias. Já enquanto ponto de entrada na rede, devem assegurar-se valências como bilheteira, sala de espera e estacionamento seguro. Pretende-se que o conceito da interface não se limite meramente a oferecer melhores condições de mobilidade, sugerindo para isso a fixação de espaços comerciais. Assim, as pessoas podem fazer compras enquanto esperam pelo seu transporte ou mesmo deslocarem-se exclusivamente para este efeito, dinamizando-se a economia local.

  • Segurança | Terá de proporcionar ao passageiro um ambiente seguro, tanto ao nível da segurança pessoal como na prevenção de acidentes, através de câmaras de vigilância, iluminação, proteção de plataformas, entre outros.

A ligação da interface com os restantes pontos do município, quer em automóvel, autocarro ou bicicleta, será desenvolvida nos capítulos associados a cada modo de transporte.

Salienta-se que, segundo os questionários realizados à população do Município de Faro, a implementação de uma plataforma intermodal é uma medida com uma elevada taxa de aceitação (84,1% da amostra considera esta medida como importante ou muito importante).